terça-feira, 24 de abril de 2012

Da Idade da Pedra à Cidade de Pedra: Matera

No caminho entre Sorrento e Bari, atravessando a bota, fica a cidade de Matera, situada ao longo de montanhas de pedras. Segundo pesquisas, a região vem sendo habitada desde a era Paleolítica, quando os homens passaram a morar em buracos feitos nas rochas calcáreas das montanhas. Esses buracos, praticamente cavernas, viraram habitações ao longo dos milênios (sim, milênios!), até serem consideradas patrimônio da humanidade e incluídas nas rotas turísticas.
Essa região da cidade de pedras, chamada de Sassi, possui buracos habitados há mais de 9000 anos e que, posteriormente, também foram ocupadas pelos escravos albaneses e eslavos (durante o império romano), pelos pastores, agricultores e ortodoxos refugiados (durante a idade média) e pelos pobres da região (até os anos 50 do século passado). Até os anos 50, inclusive, a região era uma vergonha para a cidade e incentivavam-se construções que "tampassem" a vista da cidade de pedras.
Em Sassi diz-se que o chão de um é sempre o teto de outro e que, diferentemente das demais cidades que crescem de baixo para cima, aqui as cidades crescem de cima para baixo. E admirar a vista das montanhas comprovam esses ditos populares.
A visita à cidade de Matera pode durar longas horas, ou até dias, considerando que a região de Sassi é extensa e com grandes distâncias. Além disso, há a cidade à vista e a cidade subterrânea, marcada pelas cisternas e pelas cavernas que foram, ao longo dos anos, cobertas por outras edificações. Calcula-se, inclusive, que há mais de 1400 pequenas igrejas de cavernas na cidade subterrânea que serviram de refúgio para os ortodoxos perseguidos pelos muçulmanos.
Seja qual for a duração e abrangência da visita, apenas a ida a Matera já vale a viagem. Não tínhamos muito tempo para passar na cidade, especialmente por viajarmos com um bebê sobre as pedras por onde carrinhos não passam. Assim, decidimos fazer um passeio motorizado. Pascoal é um senhor da região que tem duas grandes riquezas: uma vespa (adaptada a um carrinho e um toldo) e um cachorro que o segue aonde quer que vá. Passa o dia em uma das praças de Sassi esperando visitantes que queiram conhecer a cidade em cima de sua motoca. E lá subimos, em 3 pessoas e um bebê, para uma visita rápida, de 30 minutos (normalmente os passeios mais completos duram de 3 a 6 horas). Em cima da motoca adaptada, Pascoal nos levou aos principais pontos de Sassi, explicando cada detalhe da cidade visível e da escondida, enquanto seu cachorro nos perseguia pelas ruas de pedra.
Se o passeio pela cidade de pedras já é indescritível, faze-lo com Pascoal, sua moto e seu cachorro foi ainda mais especial. Com ele descobrimos pequenas janelas que saem, repentinamente, do chão.
Descobrimos as muitas camadas subterrâneas escondidas pela cidade. Descobrimos as igrejas modernas que foram construídas em cima dos templos da antiguidade, se aproveitando de seu espaço, pinturas e até objetos. E, por fim, foi um passeio delicioso para meu pequeno, que se divertiu de andar na motoca sendo perseguido por um cachorro. Em Sassi vale também a pena entrar em uma das cavernas antigas, que hoje são casas ou pontos turísticos. A que entramos é habitada há 2 mil anos e hoje foi adaptada para mostrar como era a vida de um pastor que ali residia.
Em Sassi temos a dimensão mais profunda da história da humanidade. Adentramos em uma caverna para encontrar, em um mesmo local, pinturas rupestres, resquícios do império romano, da criação do cristianismo, da idade média e da idade moderna e contemporânea. E, de repente, nossa história se concretiza e ganha um ar de realidade por entre as pedras e cavernas.

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