terça-feira, 24 de abril de 2012

Relatos de uma viagem rumo à Itália

Abaixo vocês vão encontrar alguns relatos sobre a viagem que fiz recentemente à Itália. Longe de ser um guia de viagens, esses relatos se propõem a dar algumas dicas de roteiro, comida e hospedagem além de dicas sobre como viajar com um bebê por aquelas terras. Roteiro da viagem: - Dias 1 a 4: Roma - Dia 5: Nápoles - Dia 6: Pompeia e Hercolano - Dia 7: Sorrento - Dia 8: Ilha de Capri - Dia 9: Costa Amalfitana e Paestum - Dia 10: Bari e Matera - Dia 11: Alberobello - Dia 12: Corato e Região de Scanno - Dia 13: Scanno e Sulmona - Dia 14: Tivoli

Dicas gerais de uma viagem à Itália com bebê

Pela minha experiência, viajar com bebê pela Itália foi relativamente fácil e agradável (dentro do possível de se viajar com um bebê). Seguem abaixo algumas dicas ou relatos: Receptividade: 1. Embora não tenhamos encontrado muitos bebês italianos, as pessoas, de forma geral, foram muito receptivas ao nosso pequeno. Não encontramos olhares repreensivos em hotéis, restaurantes ou pontos turísticos, mesmo sendo, meu pequeno, um bagunceiro e agitador de marca maior. Pelo contrário: em geral as pessoas eram muito simpáticas, mexiam conosco, nos ajudavam e facilitavam no que podiam. Circulação: 1. Circular com um bebê foi relativamente simples também - e olha que cruzamos a bota e andamos vários kilometros. Mas a maioria das cidades tem boas calçadas, com rebaixamento, que permitem caminhar de carrinho. Tirando alguns lugares com muitas subidas ou descidas (costa amalfitana) ou cidades antigas (pompéia), nas demais localidades andar de carrinho foi muito mais fácil que no Brasil! 2. Alugar um carro é sempre a opção mais simples com um bebê, já que podemos circular com montes de sacolas, chegar perto dos pontos turísticos, fugir da chuva, etc. Mas mesmo onde tivemos que circular com transporte público, não tivemos grandes dificuldades - o país é muito mais adaptado a carrinhos e cadeiras de roda do que o nosso. Além disso, nas cidades turísticas costumamos ficar mais "concentrados" em diversas regiões e pontos, bem sinalizados e que permitem deslocamento fácil. Hospedagem: 1. Os hotéis por onde passamos foram bastante acolhedores com o bebê, mas em apenas dois deles encontramos bercinho no quarto. Nos demais, tive que fazer cama compartilhada - o que pode ser bom para alguns e ruim para outros. Uma questão que se mostrou imprescindível foi a presença de carpetes nos quartos dos hotéis (limpos, claro), que permitem à criança circular, engatinhar e até cair sem grandes machucados. 2. Uma alternativa muito bacana para quem viaja com bebê é alugar um apartamento. Além de sair mais barato, na maioria das vezes, essa opção nos permite cozinhar e ter mais estrutura para cuidar de um bebê. Uma boa dica é o site www.airbnb.com Alimentação: 1. Tanto a nossa alimentação como a do bebê ficam um pouco limitadas em viagens assim, a não ser que você alugue um apartamento e possa cozinhar. Caso contrário, o apelo às papinhas prontas costuma ser a saída, nem sempre muito bem aceita pelas mães ou bebês. De qualquer forma, na Itália foi muito fácil encontrar papinhas prontas em supermercados e farmácias, de vários sabores, diferentes marcas e ingredientes. E o preço era igual ou menor ao do Brasil - ou seja, não vale a pena levar as papinhas daqui e ficar carregando peso por lá. 2. No caso de comidas frescas, a opção dos restaurantes não é sempre a mais fácil para os bebês, já que a lógica da refeição italiana (primo piato, secondo piato, etc) limita a variedade de nutrientes que consumimos em uma mesma refeição. Mesmo assim, os pães italianos servidos em todos os restaurantes foram sempre um atrativo para meu pequeno que está com dentes nascendo. Além disso, costumei pedir macarrões que tivessem legumes e não tivessem ingredientes proibidos para as crianças e, entre uma garfada e outra, o pequeno também pode aproveitar. 3. Vale lembrar também que é bem raro encontrarmos frutas frescas nos cafés da manhã de hotel - normalmente são frutas enlatadas e cheias de açúcar. Aqui a dica do supermercado vale muito para poder carregar umas bananas ou maçãs nos passeios. 4. Embora não tenha a ver com alimentação diretamente, vale uma dica importante sobre os restaurantes: não encontrei NENHUM trocador em NENHUM restaurante das várias cidades por onde passeio. As trocas de fraldas, como podem imaginar, viraram um verdadeiro malabarismo nos banheiros, de preferência com a ajuda de 2 ou 3 pessoas para funcionar bem...

A vida numa vila de Roma

A ida à Itália foi motivada pela participação em um congresso internacional, no qual eu e duas queridas amigas tínhamos aprovado um trabalho. Como bem sabíamos, apresentar o trabalho era apenas uma boa desculpa, bem intencionada, de viajar à Itália e estender nossas férias. E foi por isso que decidimos fazer essa viagem, carregando meu pequeno bebê, com 9,5 meses e meus pais que, durante minha participação do congresso, cuidariam do pequeno pelas ruas de Roma. Para facilitar os cuidados com o bebê, decidimos alugar um pequeno apartamento em um site bem bacana que viabiliza aluguel de casas e apês no mundo todo (airbnb.com). O taxi nos levou para uma pequena rua de paralelepípedos atrás da Piazza Campo dei Fiori, em frente a um café que, depois eu descobriria, tinha o melhor cappuccino de toda a região. Estranhamos quando o taxi nos deixou em frente a uma porta de ferro que dava entrada a um muro de tijolos bem antigos. Alguns minutos depois chegou Giuseppe, um rapaz casado com uma sergipana que nos alugara o dito apartamento. Giuseppe abriu a porta de ferro para nos evidenciar, então, uma daquelas antigas vilas italianas, típicas de filmes, em que os apartamentos vão subindo escadas acima, em uma desordem quase que intencional, cheia de gatos, plantas e roupas penduradas. Num estranhamente lindo labirinto de escadas, as casas vão se formando e conformando uma vida comum àqueles moradores. Nosso apartamento era uma pequena porta no andar térreo dessa vila, de frente às bicicletas e à moradia diurna de meia dúzia de gatos. Um pequeno quarto, uma sala acoplada à cozinha e um banheiro. Era tudo o que precisávamos para passar de forma ainda mais mágica aqueles primeiros dias em terras italianas: habitar, mesmo que temporariamente, uma verdadeira vila no centro escondido de roma, entre o pantheon e o bairro judeu.

Dias em Roma: entre o trabalho e o turismo

Os 4 dias que passamos em Roma tiveram que ser divididos entre a participação no congresso e o turismo. No entanto, infelizmente, os organizadores do evento marcaram as atividades para um local bem distante, a quase duas horas do centro, o que nos impedia de ir e vir quando quiséssemos. Tivemos que selecionar o que assistir e, ao mesmo tempo, selecionar o que poderíamos visitar da cidade. E uma das boas formas de conciliar melhor essas escolhas era caminhar o máximo possível pela cidade, para qualquer trajeto que tivéssemos, já que Roma é cheia de boas surpresas a cada esquina (e não é todo dia que você pode cruzar com uma edificação de mais de 2000 anos sem pretensões). Foi assim que conseguimos visitar o Pantheon, a Fontana de Trevi, o muro de Adriano, a Piazza Navona, o bairro judeu, o antigo mercado de peixes, o teatro de marcelo, entre outros pontos lindos dessa cidade tão surpreendente. Outra forma de potencializar nosso passeio era andar num daqueles ônibus circulares que levam os turistas a todos os cantos da cidade de forma rápida e fácil e que podem ser utilizados por todo o dia com entradas e saídas livres. Para quem vai viajar com bebes ou crianças, essa é uma excelente saída, já que não cansa a criança nem nossas costas. Tomamos um desses ônibus para cruzar o Vaticano, o castelo de sant´angelo, o forum, o coliseu (vale aqui uma ressalva de que eu já conhecia todos esses lugares de uma viagem anterior, bem extensa, à cidade. Assim, uma passada mais rápida era suficiente para poder reviver tudo aquilo. Para quem não conhece, separe um dia para visitar o Vaticano - cujo ingresso deve ser comprado com antecedência, outro para visitar o forum e o coliseu. E espere por horas de fila). E, por fim, decidimos investir em um turismo gastronômico que nos permitia curtir a cidade nos horários fora do congresso. E nada como sentar numa tratoria italiana e pedir um dos pratos, curtindo a noite com pessoas queridas. Para quem nunca foi à itália, aqui vale uma dica: diferentemente de nós que classificamos todos os estabelecimentos como "restaurantes", para os italianos há uma categorização que impacta no preço. Assim, prefira as Tratorias aos Restaurantes, já que essas tem comidas mais baratas, enquanto os restaurantes são mais refinados e caros. E, além disso, caso você não coma muito, não caia na tentação de pedir um menu completo, já que para os italianos uma refeição é composta de antepasto (saladas e petiscos), primo piatto (massa ou risotto), secondo piatto (carnes) e sobremesa - todos em porções bem generosas. Para mim, por exemplo, apenas um primo piatto é mais do que suficiente. Para quem vai viajar com bebês, uma dica profana: igrejas podem ser ótimos lugares para uma rápida troca de fraldas! E tanto para quem vai com bebês como com crianças pequenas: levem um carrinho, pois Roma exige grandes e boas caminhadas (e, se possível, algum que possa ser detonado, já que as ruas de paralelepípedos da cidade estragam bem o carrinho).

Rumo ao Sul: Nápoles

Alugamos em Roma um carro para começar a viagem ao sul, com destino a Nápoles. Embora sejam cidades relativamente próximas, o trânsito e a falta de informações de ambas podem fazer o trajeto ser muito demorado. Além disso, Nápoles tem um trânsito infernal, sem regras de trânsito e com ruas que não tem saídas nem escapatórias - um GPS se torna também imprescindível. Por um misto de sorte e planejamento, chegamos à cidade na sexta de noite para passar o final de semana, quando o trânsito é melhor
. Mas por um misto de azar e falta de planejamento, o hotel que tínhamos reservado não nos servia e tivemos que procurar outro. Mesmo com todos os apps do IPad à disposição, tivemos muita dificuldade de encontrar um hotel na cidade (tanto encontrar literalmente pela dificuldade física, como de encontrar vagas pela excesso de turistas). Mas o azar virou uma sorte e ficamos num dos pontos mais bonitos da cidade, no alto do morro no Corso Vittorio Emanuele. O hotel chama-se Britanique, tem ótimo preço, excelente localização, quartos amplos e confortáveis e o que se mostrou imprescindível ao longo da viagem: carpete no chão. E aqui vai uma importante dica para quem viaja com bebês e crianças pequenas: prefira hotéis com carpete no chão (desde que sejam limpos e não mofados, claro), já que as crianças podem andar, engatinhar, brincar, etc. etc. Ficamos duas noites neste hotel, já que Nápoles acaba servindo como ponto de referência para outros importantes passeios na região (como Pompeia e Hercolano, que contarei em outra postagem). Mas conhecer Nápoles também é muito interessante, desde que sejam tomados alguns cuidados: tentar ir no final de semana (para evitar o trânsito infernal), ter um GPS e pedir boas referências (já que a cidade é enorme), ter muita paciência para dirigir ou passear em uma cidade sem regras de trânsito (sério, muito pior do que as piores cidades brasileiras que conheço) e não ter enjoado de comer pizza ou doces (a cidade é realmente uma capital das pizzas de pedaço, maravilhosas, e dos sfoglatellis, indescritíveis!).

Cidades de restos: Pompeia e Hercolano

Desde a infância escutamos falar da história de pompéia e do vesúvio. Não sei quanto a vocês, mas sempre me surpreendeu a ideia de uma cidade que foi "congelada" no tempo por uma erupção vulcânica. E ficava sempre imaginando como seriam aqueles corpos em movimento que tinham sido cobertos pela lava do vulcão. Visitar pompéia sempre foi, portanto, um misto de curiosidade, incredulidade e utopia. Mas estando em Nápoles, tudo se torna excessivamente real, especialmente porque olhando de qualquer lado da cidade, sempre encontramos o Vesúvio, imponente, coberto de névoa, contrastando com o mar, invadindo e imperando por toda a região. Pompeia é uma das cidades à beira do Vesúvio, próxima a Nápoles e que guarda, dentro de um espaço murado e protegido, uma cidade morta pelo vesúvio. E passear por Pompéia é, literalmente, passar o dia caminhando pelos restos de uma cidade morta pelo vulcão e soterrada por suas cinzas durante séculos. Caminhamos entre as ruas da cidade antiga, que chegou a ter 20 mil habitantes, onde vemos os restos do bairro rico, os restos do bairro pobre, os restos das termas, os restos do cemitério, os restos das lojas, dos moinhos e dos templos pagãos. É uma cidade de restos onde devemos caminhar bastante e ativar bem a imaginação para completar os muros que foram derrubados e os tetos que foram soterrados e construir a imagem do que um dia ali existiu. E quanto aos seres humanos e materiais que viraram pedras com a lava em movimento? Estes também são restos, restos de pessoas que decidiram não fugir da cidade quando se percebeu a erupção e que ali morreram intoxicados pelos gases e cujos corpos foram petrificados depois pela lava (menos de 1% dos habitantes ficaram na cidade depois da erupção começar). Cheguei a pensar, inclusive, que se Pompéia fosse nos estados unidos, certamente teriam feito um bondinho para atravessar todas as cidades, ao lado de um parque temático onde poderíamos viver a experiência de fugir de um vulcão. Visitamos Pompéia numa manhã de um dia chuvoso. E logo na entrada percebemos que a visita com bebê, em dia de chuva, não seria nada fácil. Carrinhos não são bem vindos em Pompéia (as ruas são de pedras antigas, sem homogeneidade e por onde é impossível guiar um) e, ao mesmo tempo, as pedras com chuva não facilitam a vida de uma mãe com canguru (tive que andar o passeio todo de mãos dadas com alguém para não desequilibrar com o Chico nas costas). Como a cidade é grande, original e não tem estrutura (coisa que os americanos resolveriam muito bem, rs.), o passeio é longo, não promove boas paradas nem banheiros nem lanchonetes. Assim, com crianças, é melhor selecionar apenas um pedaço para visitar. E, sem crianças, passar antes no banheiro e levar um kit de lanches para poder curtir mais. Ah! E os guias que oferecem serviço a 10 euros na entrada podem também ser uma boa estratégia, já que a sinalização da cidade é muito ruim. Depois de Pompéia decidimos visitar Hercolano, outra cidade da região que também foi morta pela erupção do Vesúvio. E o que vou dizer aqui pode parecer uma ofensa terrível, quase uma profanação à história e ao turismo, mas eu definitivamente gostei mais de Hercolano do que de Pompéia. Hercolano era uma cidade de descanso para os ricos de Pompéia, com cerca de 4 mil habitantes, construída entre uma praia e um penhasco. A cidade tinha pelo menos 3 camadas na vertical, casas sobre casas. Diz a história que quase todos os seus habitantes morreram sem tempo para fugir da erupção (diferentemente de Pompeia) e, como a cidade tinha 15 metros de profundidade até o mar, ela foi toda coberta de cinzas e assim ficou durante muitos séculos. Outra cidade foi construída sobre ela, até que se descobrissem seus restos. Uma parte já foi escavada, enquanto outra parte permanece intacta sobre a cidade atual e suas construções e a visita às escavações nos permite ver como de fato era a cidade, quase original, casa sobre casa, embaixo das edificações modernas. Além das construções mais conservadas, em Herculano podem ser vistos os desenhos e pinturas das paredes, bem guardados por séculos pelas cinzas do vulcão.

Sorrento: a cidade onde mora a felicidade

Se me perguntassem onde eu acho que a felicidade mor,a não teria dúvidas de responder que é em Sorrento. Sorrento é uma pequena cidade ao sul de Nápoles e que dá entrada à costa amalfitana e à conhecida Ilha de Capri. Não sei se é a vista, o calçadão, as lojas, a vida turística, os simpáticos habitantes, as ruas floridas ou o mar desfiladeiro abaixo, mas fato é que em Sorrento eu fui feliz - e posso d
izer o mesmo dos rostos que lá encontrei. Não se vai a Sorrento para ficar em Sorrento, mas para, a partir de lá, visitar outras cidades. Mas, voltando de seus respectivos destinos, os turistas lá se encontram no fim da tarde, nas poucas quadras de comércio que existem à beira do penhasco que leva ao mar. E ali se jantam deliciosos frutos do mar, peixes e massas, ou se toma um sorvete, sentado à calçada ou caminhando pelo calçadão em ritmo de vai e vem (um verdadeiro lugar para ver e ser visto). O hotel que ficamos em Sorrento era muito perto da agitação, o que fez o passeio ser ainda mais gostoso. E, de frente ao hotel Gardenia, estava a tratoria Ritrovare, de uma família local e chefiada pelo cheff de cozinha Francesco. Em apenas 4 mesas, os donos ajeitam todos os visitantes, compartilhando as mesas, os lugares e as conversas e oferecendo o que tem de mais fresco e disponível no balcão (quem quer lasanha de melanzana? e ravioli de ricota?). E foi lá que passamos as 3 noites em que ficamos na cidade até, no último dia, nos sentirmos parte da família do restaurante. Foi lá que comi a melhor massa de tutta la mia vita: penni com zucchini e camarões. Foi lá que o Chico se tornou o centro das atenções e comeu muita batata frita e delicioso pão italiano. Foi lá, em Sorrento, entre os calçadões, o desfiladeiro, o Ritrovare e o Gardenia que eu fui feliz. Outras dicas de Sorento: tomar sorvete na sorveteria que o papa já visitou (é maravilhoso!), comprar porcelanas típicas da região ou outros souvenirs (são bem mais baratos que nos demais destinos), caminhar pelas escadarias com destino ao mar e à estação de barcos para Capri

Do Luxo ao Mar: Ilha de Capri

Para mim, a Ilha de Capri sempre foi associada ao luxo e às colunas sociais (vide a ilha da revista caras), mas os inúmeros relatos de sua beleza indescritível me convenceram a visitar este paraíso nada perdido à beira da costa amalfitana. Chegamos à ilha de capri de barco, saídos de sorrento. Os barcos partem várias vezes ao dia e em menos de uma hora chega-se ao local. Por indicações equivocadas, achamos que não seria bom levar o carrinho de bebê, mas as ruas são tão asfaltadas como de fácil acesso (vale lembrar que dificilmente a coluna social desfilaria por ruas intransitáveis) e acabei comprando um carrinho lá mesmo para poder caminhar melhor. A entrada da ilha de capri é exultante. Desfiladeiro acima podemos vislumbrar as centenas de casas ocupadas, originalmente, por constantino, depois por cabras e seus pastores, em seguida por axel munthe, o escritor do lindo livro A ilha de san michele, que abandonou a medicina da alta classe de paris para ocupar aqueles morros, seus castelos abandonados e dedicar a vida a cuidar dos animais locais. É uma pena que essa linda história seja hoje ocupada por lojas da prada, victor hogo (e outras que eu nem sei mencionar) e os ricaços que, em compras, e numa lógica de "ver e ser visto" desconhecem por completo a história tão linda e antiga dessa ilha e seus habitantes. Mas entre as frestas das lojas de luxo, pode-se deslumbrar uma vista única, que demonstra o poder da natureza sobre qualquer rito capitalista.
Para mim, a visita à ilha valeu pelas caminhadas perdidas, entre vielas, cidade acima, cidade abaixo, rumo à história de axel munthe ou às vistas perdidas e não ocupadas pelos hotéis ou pontos de venda. vale pelo poder da natureza e pelas belezas que o sol, o mar e as pedras são capazes de construir sozinhos sem nenhuma interferência do homem.

Nas Estradas, Encostas e Entranhas: Costa Amalfitana

A Costa Amalfitana é um dos destinos mais procurados da Itália por suas belezas naturais, pelo clima favorável para os verões e pela badalação da época de férias. A região é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, inclusive. Mas visitar a costa fora da alta estação também tem suas vantagens - embora para uma brasileira certamente curtir a praia no frio não seja a melhor escolha. A costa é formada por diversas cidadezinhas (chamadas de Paeses), a maioria sobre a encosta, ligadas por uma linda estrada que dá a visão de toda a costa entrecortada pelas escarpas. Como a estrada fica no alto e a costa e cheia de "entranhas", a cada nova curva tem-se uma nova e linda visão. E só percorrer essa estrada já vale todo o passeio!
Além disso, cada um dos paeses tem suas próprias belezas, com destaque especial para Positano, Amalfi e Vieste. Para fazer esse passeio, saímos cedo da nossa base em Sorrento e percorremos de carro a estrada, ao longo de todo o dia, parando nas cidades acima para visitar, comer ou tirar fotos. A estrada tem muitas curvas e pode não ser muito apropriado para um bebê (o meu reclamou por ficar tanto tempo dentro do carro). Além disso, as cidades, assim como a estrada, tem trechos de apenas uma faixa e, considerando a falta de noção dos motoristas da região (já comentada em outros posts), 'as vezes as ruas e estrada ficam paradas para alguém embarcar, desembarcar, estacionar, descer para comprar alguma coisa, etc. Enfim, o fluxo pode ser demorado e, dizem, no verão isso fica quase insuportável. Assim, uma boa estratégia é deixar o carro nos estacionamentos da entrada dos paeses e andar a pé por eles. Caso essa seja a opção, o risco é ter que andar demais, especialmente porque os paeses são nas montanhas, cheios de subidas e descidas. O carrinho de bebê foi imprescindível nesse caso, assim como a gentileza de meu pai que foi buscar o carro para nos pegar, depois de termos descido toda a cidade de Positano.
Outra dica para este passeio é andar um pouco mais e procurar descanso (e comida) nos paeses mais vazios, ao final da costa, onde o estacionamento e a locomoção ficam mais fáceis e as filas bem menores. Também vale muito a pena aproveitar as paradas que existem ao longo da estrada para tirar fotos. Em cada curva temos a impressão de estar em um novo lugar, todos de beleza incomparável. E, por fim, para conseguir curtir mais as belezas da estrada e da região sem grandes irritações, vale considerar uma visita fora da alta estação (mesmo que você acabe visitando a praia de gorrinho, casaco e luva, como foi no nosso caso).

Restos Gregos no Império Romano: Paestum

Paestum é uma cidade fundada em 600 a.c. pelos gregos em homenagem a Poseidon. Patrimônio histórico da humanidade, tem os três tempos considerados os mais preservados e completos da grécia antiga no mundo: Templo de Hera (540 a.C.), o Templo de Atena (500 a.C), o Templo de Poseidone, além de diversos edifícios gregos da época romana e de uma necrópolis. Conhecer ruínas de uma cidade grega muito preservadas em plena Itália é indescritível. Pode-se chegar em Paestum pelas auto-estradas ou pelas estradas vicinais, como a que continua da Costa Amalfitana. Fizemos este caminho e a estrada em si já valeu o passeio. Em poucos kilometros vemos uma geografia completamente diferente, com vastos campos, típicos da calábria: oliveiras, montanhas distantes, diversas plantações e regiões quase inabitadas. Ao chegar à cidade de Paestum somos rapidamente surpreendidos pela visão dos templos e suas colunas, tão discrepantes com o restante da paisagem da região.
Paestum era uma cidade habitada, onde havia casas, comércio e templos e pode-se andar por toda a cidade tropeçando em restos de uma antiga civilização. Além dos templos quase intactos, encontramos, em alguns cantos, muros ou construções mais inteiras.
Mas em outras partes da cidade há apenas grama com um ou outro tijolo, pouco aparentes, denunciando a vida que ali existiu há tanto tempo.
É um passeio curto, de pouco mais de uma hora, mas que revela uma emoção incrível de transitarmos entre outros restos, dissolvidos pelas guerras e pela peste, e que mostram que o que resta de uma civilização é apenas sua admiração a algum deus e o poder da natureza.

Da Idade da Pedra à Cidade de Pedra: Matera

No caminho entre Sorrento e Bari, atravessando a bota, fica a cidade de Matera, situada ao longo de montanhas de pedras. Segundo pesquisas, a região vem sendo habitada desde a era Paleolítica, quando os homens passaram a morar em buracos feitos nas rochas calcáreas das montanhas. Esses buracos, praticamente cavernas, viraram habitações ao longo dos milênios (sim, milênios!), até serem consideradas patrimônio da humanidade e incluídas nas rotas turísticas.
Essa região da cidade de pedras, chamada de Sassi, possui buracos habitados há mais de 9000 anos e que, posteriormente, também foram ocupadas pelos escravos albaneses e eslavos (durante o império romano), pelos pastores, agricultores e ortodoxos refugiados (durante a idade média) e pelos pobres da região (até os anos 50 do século passado). Até os anos 50, inclusive, a região era uma vergonha para a cidade e incentivavam-se construções que "tampassem" a vista da cidade de pedras.
Em Sassi diz-se que o chão de um é sempre o teto de outro e que, diferentemente das demais cidades que crescem de baixo para cima, aqui as cidades crescem de cima para baixo. E admirar a vista das montanhas comprovam esses ditos populares.
A visita à cidade de Matera pode durar longas horas, ou até dias, considerando que a região de Sassi é extensa e com grandes distâncias. Além disso, há a cidade à vista e a cidade subterrânea, marcada pelas cisternas e pelas cavernas que foram, ao longo dos anos, cobertas por outras edificações. Calcula-se, inclusive, que há mais de 1400 pequenas igrejas de cavernas na cidade subterrânea que serviram de refúgio para os ortodoxos perseguidos pelos muçulmanos.
Seja qual for a duração e abrangência da visita, apenas a ida a Matera já vale a viagem. Não tínhamos muito tempo para passar na cidade, especialmente por viajarmos com um bebê sobre as pedras por onde carrinhos não passam. Assim, decidimos fazer um passeio motorizado. Pascoal é um senhor da região que tem duas grandes riquezas: uma vespa (adaptada a um carrinho e um toldo) e um cachorro que o segue aonde quer que vá. Passa o dia em uma das praças de Sassi esperando visitantes que queiram conhecer a cidade em cima de sua motoca. E lá subimos, em 3 pessoas e um bebê, para uma visita rápida, de 30 minutos (normalmente os passeios mais completos duram de 3 a 6 horas). Em cima da motoca adaptada, Pascoal nos levou aos principais pontos de Sassi, explicando cada detalhe da cidade visível e da escondida, enquanto seu cachorro nos perseguia pelas ruas de pedra.
Se o passeio pela cidade de pedras já é indescritível, faze-lo com Pascoal, sua moto e seu cachorro foi ainda mais especial. Com ele descobrimos pequenas janelas que saem, repentinamente, do chão.
Descobrimos as muitas camadas subterrâneas escondidas pela cidade. Descobrimos as igrejas modernas que foram construídas em cima dos templos da antiguidade, se aproveitando de seu espaço, pinturas e até objetos. E, por fim, foi um passeio delicioso para meu pequeno, que se divertiu de andar na motoca sendo perseguido por um cachorro. Em Sassi vale também a pena entrar em uma das cavernas antigas, que hoje são casas ou pontos turísticos. A que entramos é habitada há 2 mil anos e hoje foi adaptada para mostrar como era a vida de um pastor que ali residia.
Em Sassi temos a dimensão mais profunda da história da humanidade. Adentramos em uma caverna para encontrar, em um mesmo local, pinturas rupestres, resquícios do império romano, da criação do cristianismo, da idade média e da idade moderna e contemporânea. E, de repente, nossa história se concretiza e ganha um ar de realidade por entre as pedras e cavernas.

Às Margens do Adriático: Bari e Corato

Nunca pensei que pudesse conhecer dois mares em uma mesma viagem curta, à distância de apenas alguns quilômetros que separam ponta a ponta da bota. Embora as águas sejam a mesma, do lado oposto à costa amalfitana está Bari, à beira do lindo mar Adriático. Bari é uma cidade enorme, à beira do mar, com uma vida bem agitada. Cheia de lojinhas que andam em paralelo a uma cidade antiga de pedras e igrejas, Bari é um lugar diferente e interessante, porém, como muitas outras cidades grandes, não é fácil se apaixonar de cara por Bari. Mas ela tem, de fato, seu charme. Cidade plana, bem organizada e planejada (ao menos na parte em que visitei), ou seja, o oposto do caos de Nápoles, além de uma linda orla.
Bari, acima de tudo, funciona como um ponto de partida para vários outros passeios. No nosso caso, foi a chegada pós Matera e a saída para Alberobello (ambos em outros posts). Ficamos em um hotel muito bem localizado, o Boston que, além de ter quarto amplo e com carpete, era limpinho e lindinho. Ao lado e à frente do hotel tem diversos restaurantes maravilhosos, além de um ótimo supermercado. A poucas quadras está o calçadão do centro comercial(tentador) e o centro antigo da cidade. Bari vale uma visita, não extensa nem com grandes pretensões, mas algumas horas de caminhada pela cidade ajudam a alegrar o dia. A 50 km de Bari fica a pequena cidade de Corato. Não é um lugar turístico, nem nos guias ou sites ela é comentada e chegamos lá simplesmente por um acaso feliz. Tínhamos deixado os últimos 3 dias de viagem para passear por lugares desconhecidos e não planejados e, saindo de Bari sem rumo, fomos surpreendidos pela placa da cidade que remontava à história da família de um amigo brasileiro. E foi simplesmente porque este amigo me tinha contado de seus antepassados que decidimos parar ali. A entrada de Corato já é surpreendente: extensas filas de lindas e antigas oliveiras margeiam toda a estrada local.
Corato é uma cidade de 40 mil habitantes onde antes (segundo relatos de meu amigo) viviam bordadeiras e pintores que trabalhavam nos castelos da região. As bordadeiras se profissionalizaram e hoje Corato tem um centro têxtil industrial nos arredores da cidade - que descobrimos apenas pelas placas. Segundo relados de um senhor que conhecemos pelas ruas, a cidade intramuros foi construída, na época medieval, com ruas paralelas e transversais para que se pudesse, de qualquer entruncamento, observar o começo e o fim da cidade em seus quatro cantos. Foi surpreendente descobrir que isso era verdade nas fotos tiradas da cidade que mostram os cruzamentos sempre em forma de cruz perfeita e com boa visão de um horizonte distante.
O centro de Corato tem vielas com paredes de pedras, oliveiras nas calçadas e roupas penduradas nas janelas. Caminhões e barracas de frutas nas esquinas. Os poucos cafés são lotados e as pessoas simpáticas, sorridentes e surpreendidas com o turismo (inexistente) na região.
Foi uma linda surpresa, especialmente por conhecer a vida de uma cidade não turística, com seus segredos e delicadezas.