terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Bem Vinda a Hong Kong

Cá estou do outro lado do mundo tentando entender como funciona este lugar onde as pessoas têm olhos puxados, lêem de cima para baixo, comem de pauzinho e tomam chá o dia todo...
Apesar das descrições poderem remeter quase qualquer país oriental, estou falando de um lugar bem particular, onde a cultura ocidental tenta se misturar à oriental mas não consegue. Este lugar é Hong Kong.
Dominado por muitas décadas pelos ingleses, esta ilha chinesa tem muitas particularidades. A começar por ser uma ilha. Ser uma ilha e pertencer à China. Ser uma ilha chinesa e ter o inglês e o cantonês como línguas oficiais. Se ruma ilha chinesa, em inglês e cantonês, com olhos puxados, cheia de prédios, toda vertical e brilhante, que não pára, toma chá a todo instante e por onde se anda em passarelas. Vou explicar aos poucos.
É pouco espaço para muita gente. Por isso a cidade cresceu na vertical. São prédios gigantescos, todos condensados, com coisas pulando para fora (por vezes ar condicionado, por vezes alguma decoração ou a roupa para secar). Os prédios tentam disputar espaço com algumas montanhas que insistem em ocupar a ilha.
As ruas correm ao contrário das nossas, seguindo o padrão inglês dos volantes na direita. É preciso tomar mais cuidado para atravessar a rua...
As pessoas andam sobre passarelas. Não apenas aquelas que cruzam as avenidas. São centenas de passarelas que se entrecruzam para criar mais espaço para andar, como se houvesse uma segunda cidade suspensa, feita para comportar gente demais em espaço de menos.
Encontrei muita gente andando de máscaras na rua. Abby diz que são pessoas gripadas ou com tosse que previnem as demais de pegarem gripe. Que mundo mais solidário, pensei....
Também encontrei muitas senhoras e senhores, em idade bem avançada, fazendo exercícios pelas ruas. Tai chi, caminhada, etc etc. Que mundo mais saudável, pensei...
Estamos em um bairro bem antigo e tradicional, cheio de pequenos mercados, feiras abertas, supermercados, restaurantes e outros locais para venda de comida.
Andamos por alguns mercados nesta manhã. As frutas são todas iguais, embora diferentes. As maçãs são pálidas. As mangas menores. As laranjas são gigantescas ou minusculas. As cenouras são de tamanho indescritível. A jaca é mais amarela. O morango meio esbranquiçado. Até carambola grande este lugar tem. Tem também um jambo bem vermelho...
Ao lado das frutas, os frutos do mar. Frescos ou secos, como o freguês preferir. Para quem prefere os primeiros, são literalmente frescos: os peixes nadando, camarões vivos (eu nunca tinha visto!), lagostas na agua, enguias, arraias, ostras e outros mariscos. Todos dividindo tanques com ar circulando.
Para quem prefere os secos, há de tudo o que se pode imaginar, como plantas marinhas, algas, ostras secas para comer de aperitivo, camarões, mexilhões, pequenos ou grandes peixes, até lula e polvo seco se vende. As pessoas compram uma quantidade em saquinhos e saem comendo pelas ruas.
Os supermercados também não deixam por menos para quem quiser surpresas. Depois de visitar muitos países nos últimos anos (entre América latina, EUA, Europa e África), é a primeira vez em que vejo um supermercado com produtos autênticos e únicos. É que em todos os outros países, sempre encontrava as mesmas coisas apenas com embalagens diferentes (ouvi uma vez que 70% do mercado de alimentos do mundo é dominado por apenas 5 empresas, o que explicaria tamanha igualdade). Mas aqui é diferente. Tudo é único, tudo é particular. Poucas coisas podem ser reconhecidas pela embalagem. Aliás, poucas coisas já foram provadas antes por esta ocidental que escreve....
Nesse sentido, o resquício colonial traz ao menos uma sorte: boa parte dos produtos tem pequenos escritos em inglês (claro que, na maioria das vezes, não suficientes para entendermos). Mas vale experimentar tudo.
Já foram: o famoso tea-milk (chá com leite, delicioso resquício colonial), suco de pêra com jasmim, suco de frutas com legumes (verde!), biscoitos de castanhas locais, chá de ervas chinesas (o que quer que elas sejam), cogumelos variados, além do biscoito maria (aqui chamado de Marie Buscuits), sorvete de moshi (aquele doce chines-japones recheado de feijão) e muitos macarrões instantâneos.
Estamos hospedados em um apartamento do centro de dança onde otávio está trabalhando. O centro fica em um prédio de 9 andares (sem elevador), com pequenos apartamentos destinados a visitantes ou dançarinos. O nosso é no 5o andar chines, ou 4o inglês.
Cada apartamento tem 3 quartos que, supostamente, se destinam a diferentes moradores (no nosso caso os outros 2 moradores não existem, ainda bem). Temos também uma cozinha (do tamanho do meu banheiro brasileiro!), um banheiro-lavanderia e uma salinha.
Tudo é compacto e supostamente prático. A cozinha, por exemplo, tem uma mini-geladeira, um fogão elétrico de 1 boca (parece mais uma balança de banheiro) e algumas panelas práticas, de arroz e de não-entendi-o-que.
Os chineses parecem ter uma concepção diferente de limpeza e o apartamento não era diferente. Tudo tinha marcas de anos sem limpar. Nada que uma manhã, produtos de limpeza, uma luva de plástico e muita boa vontade não tenham resolvido...
Depois da faxina, decidi desbravar mais a cidade e fui até o shopping mall que, para minha não surpresa, é igual a todos os outros que já conheci. Lojas, praça de alimentação, jovens comprando, etc etc.
Esperava que a china fosse extremamente barata (é só considerar a diferença do transporte que atravessa o mundo com todos os produtos “made in china” que é fácil chegar a essa conclusão). Mas pelo jeito eu estava errada. As lojas do shopping têm preço de lojas de shopping. Não sei se por ser shopping, por aproveitar o excedente do consumidor, se por ser em Hong Kong ou porque o mundo é assim mesmo.... Mas nada foi convidativo às compras, com exceção de uma lojinha chamada Japan Home Center (cheia de produtos chineses, claro), que tem todas as parafernalhas que uma mulher que gosta de cozinhar poderia sonhar. E, claro, aí sim, tudo a preço de “loja de um real”. Pelo jeito as malas terão que se reproduzir daqui até o final da viagem...
quando andamos na rua,, todas as pessoas nos olham. Até susto já levaram vendo o Otávio. Abby diz que isso acontece por estarmos em um bairro não turístico. Talvez seja isso. Mas talvez seja a altura tão díspare do Otávio em relação aos demais transeuntes.
Não acredito que seja apenas por nosso rosto ocidental (embora muita gente diga que eu tenha olhos puxados) porque até uma freira (loira de olho verde, resquício colonial) encontrei hoje pela rua...
Enquanto espero o dia daqui chegar ao fim (com sono invertido, corpo cansado, vôos acumulados), vou tomar mais tea-milk, arrumar a casa e ver algum canal de televisão resquício do colonialismo.

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